Bombeiros entra no debate de carros elétricos em condomínios

Exigências do Corpo de Bombeiros de SP em minuta de parecer técnico para carros elétricos em condomínio podem inviabilizar a tecnologia. Especialistas pedem calma

A crescente adoção de veículos elétricos no Brasil tem impulsionado uma série de discussões e medidas em relação à segurança contra incêndios em espaços destinados à recarga e estacionamento de carros elétricos em condomínios. Afinal, a frota já passou dos 256,5 mil veículos (ABVE).

Isso aconteceu muito em função de um parecer técnico do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, que estipula diversas exigências e prazos, os quais deixaram muitos síndicos de cabelo em pé. 

Há preocupações em relação à viabilidade técnica, mas, principalmente, econômica, das medidas propostas, que poderiam inviabilizar a instalação de estações de recarga nos condomínios. 

Conversamos com diversas partes envolvidas no assunto, trazendo as motivações, exigências, como tem sido feito atualmente, consequências, alternativas e orientações para condomínios que já possuem o sistema ou pretendem instalar carregadores de carros elétricos.

Março de 2024, inclusive, foi o segundo melhor mês da série histórica da ABVE, com 13.613 emplacamentos. As vendas nesse período só foram superadas pelo recorde de dezembro de 2023 (16.279). De 2012 a 2024, o total geral de veículos eletrificados vendidos no País é de 256.521, de acordo com a entidade. 

Então, com o crescimento da frota desses veículos, o Corpo de Bombeiros entende que haverá mais trabalho no atendimento a combate a incêndios, especialmente devido aos riscos ampliados relacionados às baterias de íons de lítio – um componente comum em celulares, notebooks e câmeras.

Entre outros fatores como exposição a temperaturas extremas, vibrações e impactos durante o percurso, as baterias de carros elétricos são consideravelmente maiores, assim como a capacidade de armazenamento, se comparadas às encontradas em dispositivos eletrônicos portáteis.

Isso significa que a bateria de íons de lítio acumula uma quantidade superior de energia, o que pode resultar em incêndios mais intensos e difíceis de controlar.

Sendo assim, os incêndios em VE apresentam desafios específicos, como a dificuldade de extinção e provocando labaredas altas e intensas, as quais demandam grandes volumes de água, além da alta dissipação de gases tóxicos e calor, o que aumenta o potencial de pré-ignição do incêndio. Ou seja, o fogo volta a se propagar dias depois mesmo que tenha sido aparentemente extinto.

De acordo com o NTSB (sigla em inglês para Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA), ocorrem, em média, 25,1 incêndios a cada 100 mil carros elétricos em circulação. Esse número sobe para 1.529 a cada 100 mil no caso dos carros com motor a combustão. 

No entanto, o que o capitão defende é que já existe um vasto conhecimento sobre o que fazer em ocorrências ligadas a veículos a combustão, enquanto os carros elétricos são uma tecnologia relativamente nova, muito recente no que diz respeito a incêndios.

Citando “estudos globais”, o texto do parecer dos bombeiros indica que a detecção precoce e o combate nos primeiros indícios de fogo são essenciais para uma eficaz extinção dos incêndios relacionados a esse tipo de bateria presente nos veículos elétricos. 

Diante disso, a garagem dos edifícios com sistema de carregamento de carros elétricos também precisa estar preparada para minimizar os riscos de danos estruturais e preservar a vida das pessoas.